FUNDAÇÃO: VITRINE, ELITE E DERROTA

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1919 - 25 anos depois se tornar município, 7 após a chegada da EFA (Estrada de Ferro Araraquarense), Rio Preto não dispunha de um time de futebol profissional; alías, o esporte lupédico ainda dava seus primeiros passes e chutes neste sertão de Iboruna.
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O que se via então eram algumas "peladas" disputadas aos finais de semana (geralmente, em pastos fartos de estrume) e partidas entre equipes amadoras da cidade [1].
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Naquele ano, 11 entusiastas pelo football se reunem e fundam o RIO PRETO [2]. A missão consistia em organizar um time de futebol profissional, capaz de disputar regulamente partidas contra selecionados circunvizinhos e demais equipes do interior paulista.
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Isto explica porque o clube, fundado em 21 de abril, nasceu filiado à Associação Paulista de Esportes Athléticos, apto, portanto, aos confrontos profissionais.
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Cumpre frisar que a fundação de agremiações esportivas ao longo dos anos 10 e 20 do século passado se constituiu como prática comum em vários municípios do interior paulista - e brasileiro. A organização de clubes esportivos e times de football rendia à cidade certo status, pois evidenciava seu "progresso", habilitando-a a empreendimentos futuros. Assim, o futebol servia de vitrine aos interesses de expansão e desenvolvimento dos municípios, geralmente a cargo das oligarquias e elites locais.
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O caso do RIO PRETO não fugiu muito à regra, ainda que sua fundação tenha registrado uma composição heterogênea, reunindo desde médicos à empreiteiros de obras.
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Segundo consta coube ao Dr. Raul Silva [3], destacado membro da elite local, a tarefa de organizar o clube. Nesse sentido, as palavras "oficiais" não deixam dúvidas: "... sendo pessoa de projeção em nossa cidade, [Silva] carreou para o clube elementos dos mais representativos em todas as classes sociais, fazendo com que o Rio Preto atingisse em curto espaço de tempo, elevado grau de projeção" (Disponível em: RIO PRETO ESPORTE CLUBE. Nossa História [1919-2006]. Acesso em: 20 set. 2007).
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E o time do Dr. Silva estreou com o pé esquerdo; logo na 1ª partida, o encontro com a derrota. Ao enfrentar o então temido Clube Atlético Imperial de Taquaritinga, o RIO PRETO conheceu seu primeiro revés: 1X0.
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Vale recordar o primeiro esquadrão alvi-verde: "Zé Capoeira, Paschoal Gignardi, Zéca, Maria, Tango, Borocha, Campineiro, Marcondes, Luiz dos Santos, Pacheco e Orlando da Valle; o primeiro gol do Rio Preto foi marcado por Pacheco". (ARANTES, L. Dicionário Rio-pretense. 2ª ed., 2002, p. 705).
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Detalhe: até então, o clube fundado em 21 de abril de 1919 chamava-se apenas RIO PRETO.
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NOTAS
[1] Assim narra o memorialista Oswaldo Tonello: "Quando cheguei com meus doze anos [neste 'Sertão Rio Preto'], em 1919... não havia muitos jogos de futebol, eram praticamente inexistentes, não havendo campos. O único campo provisório... estava situado em meio ao pasto de bois, no sítio do Zé Pedro, todo aberto, sem conservação e com estrume por todos os lados. Ali permaneceu por alguns anos e para haver jogo, era preciso antes fazer a limpeza e delinear as linhas do campo com cal". In. TONELLO, O. São José do Rio Preto - Memórias. 2ª ed, 2006, p. 61.
[2] Eram eles: "Attilio Ognibene, Braúlio Mendonça, Francisco de Almeida Viegas conhecido como 'Pacheco', Francisco Fusco, Francisco Laurito, Gabriel Camarero, João Jorge mais conhecido como 'João da Pinta', José 'Bepe' Zanirato, José 'Juca' Bueno, Noé Pimentel e Raul Silva". In. ARANTES, L. Op Cit, p. 705.
[3] "SILVA, Raul - dentista (Sorocaba/SP 4/3/1887 - SJRio Preto/SP 15/10/1955) foi um dos fundadores e várias vezes presidente da Sociedade Odontológica a partir de 1926; foi um dos fundadores e primeiro-secretário do Automóvel Clube; foi também um dos fundadores e primeiro presidente do Rio Preto EC de 1919 a 22 e de 1931 a 1932; foi um dos reorganizadores do Santa Casa em 1921, secretário do Grêmio Literário e Recreativo de Rio Preto em 1925, presidente do Tiro de Guerra de 1919 a 20, fundador e presidente da Rádio PRB-8 em 1935. Autor do Álbum de Rio Preto de 1918 a 1919, em sociedade com Fernando Oiticica Lins [primeiro livro sobre a história de São José do Rio Preto. Formado pela Escola de Farmácia e Odontologia de São Paulo, em 1909. É nome de rua na Redentora e Nova Redentora". Ibidem, p. 561.
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